segunda-feira, 25 de outubro de 2010

V – CONFIRMAÇÃO – Repreensões em particular

Agora que estamos a caminho do fim do estudo deste Sermão, deve o aluno estar atento a certas características barrocos do texto e ser capaz de identificar os mais frequentes e significativos processos estilísticos que nele ocorrem, como a alegoria, a ironia, o paralelismo, a prosopopeia ou animismo, a interrogação retórica, alguns jogos de palavras, ser capaz de verificar quando o orador repreende os moradores do Maranhão ou, alargando a perspectiva, atinge defeitos comuns a qualquer comunidade cristã…
Isto não exclui outros aspectos para que já foi repetidamente chamada a atenção, como o elogio do Santo António, a intertextualidade, o engenho[1]
Procure a ironia e alegoria nas reflexões sobre o roncador, o pegador, o voador, o polvo…

Alegoria da traição
"O polvo,
com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão.
E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado.
As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia;
as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício."


[1] O engenho de Vieira manifesta-se sobretudo pelas aproximações inesperadas entre conceitos, que lhe permitem fazer as suas alegorias e ironias, descobrir que deve pregar aos peixes como o Santo António, etc.

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