segunda-feira, 25 de outubro de 2010

II – CONFIRMAÇÃO – Louvores em geral

Vieira faz um discurso dirigido aos peixes para falar aos homens. É indispensável que o ouvinte (o leitor) se dê conta do invulgar da situação: um sacerdote, dentro da igreja, a falar do púlpito para os peixes (que estão a uma ou duas centenas de metros de distância), e que não têm, evidentemente, nada a ver com o Sermão.
É o mundo do jogo, do artifício estético-oratório, do Barroco, da metamorfose, do excessivo.

Introdução – dois parágrafos iniciais

Desenvolvimento – o restante


Observações estilísticas:
Assinalam-se a seguir alguns casos de maior interesse estilístico, mas há certamente muitos, muitos mais. Descubra-os!

Ironia e ambiguidade, prosopopeia:
«Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório (o de Vieira ou os peixes?). Ao menos têm os peixes (os ouvintes de Vieira?) duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa poderia desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes (os ouvintes de Vieira?) que se não há-de converter. Mas esta dor é tão ordinária que já pelo costume quase se não sente (os ouvintes de Vieira são empedernidos)».

Paralelismo, antítese e quiasmo:
«Aos homens deu Deus uso de razão, e não aos peixes; mas neste caso
os homens tinham a razão sem uso, e os peixes o uso sem a razão

Enumerações e séries paralelísticas, plurimembração (atenção ao remate – thésis - das frases):
«Dos animais terrestres o cão é tão doméstico,                                                                             
 o cavalo tão sujeito,
 o boi tão serviçal,
 o bugio tão amigo ou lisonjeiro,
e até os leões e tigres com arte e benefícios se amansam (thésis)

«Dos animais do ar,
afora aquelas aves que se criam e vivem connosco,
                        o papagaio nos fala,
                        o rouxinol nos canta,
                        o açor nos ajuda e nos recreia;
e até as grandes aves de rapina, encolhendo as unhas, reconhecem a mão de quem recebem o sustento (thésis)

«Cante-lhe aos homens o rouxinol, mas na sua gaiola;
diga-lhe ditos o papagaio, mas na sua cadeia;
vá com eles à caça o açor, mas nas suas piozes;
faça-lhe bufonarias o bugio, mas no seu cepo;
contente-se o cão de lhe roer um osso, mas levado onde não quer pela trela;
preze-se o boi de lhe chamarem fermoso ou fidalgo, mas com o jugo sobre a cerviz, puxando pelo arado e pelo carro;
glorie-se o cavalo de mastigar freios dourados, mas debaixo da vara e da espora;
e se os tigres e leões lhe comem a ração de carne que não caçaram nos bosques, sejam presos e encarcerados com grades de ferro (thésis)

Ironia:
«Vede, peixes, quão grande bem é estar longe dos homens (dos do Maranhão…)! Perguntado um grande filósofo qual era a melhor terra do mundo, respondeu que a mais deserta, porque tinha os homens mais longe.»

Intertextualidade:
Repare-se na abundância de citações, como se a Bíblia (Génesis, Daniel, Jonas …), S. Basílio, Aristóteles, S.to Ambrósio se ocupassem sobretudo de peixes…

Santo António no Sermão: procurar.

A crítica aos colonos do Maranhão: procurar.

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